A internação do Matheus


As conversas de mãe se repetem, são sempre as mesmas. Trocamos informações sobre coisas bacanas como: cocô, xixi, vômitos e gracinhas. Mas a verdadeira intenção dessa “troca” é a experiência que cada uma tem, que é única. Aprendemos a observar nossas crias em suas rotinas, suas manhas, suas vontades... sabemos o que é normal pra eles e cada coisa estranha que foge do nosso conhecimento é motivo de um certo pânico.
Muito se fala sobre a culpa, mas nada mais é a culpa do que a consequência do medo. O medo que nos aflige, em geral, é de perder o controle. De se ver impotente em relação a alguma anormalidade que possa acontecer com nossos filhos. Temos medo porque filhos não são como bolsas e sapatos, que se ficarem bem guardados, teremos pra vida inteira. Filhos não são “nossos”, a nós cabe parir, cuidar, criar, educar e amar, mas “nossos”, como “posse”: não!
Em novembro do ano passado tive um susto enorme com o Matheus.  Ele começou a apresentar um inchaço grande inicialmente nos olhinhos. Parecia uma reação alérgica, levei no pronto socorro e a médica deu um antialérgico e mandou ele de volta pra casa. No dia seguinte além dos olhos continuarem inchados a barriga dele também ficou inchada. Segunda feira, dia 12, eu me assustei ao dar banho nele a noite. Meu pequeno que sempre foi fininho estava com uma barriga enorme, eu queria levar ele pro hospital e meu marido ficou insistindo que não precisava e que não era nada, no outro dia até discutimos, mas no final das contas o levei de volta pro pronto socorro. Desta vez demos sorte de pegar um médico melhor e mais atento, pediu exames e disse que aquilo não era quadro alérgico. Enquanto esperava o Matheus fazer xixi para o exame vi o médico conversando com outra médica, estavam falando sobre o Matheus, pediram para medir a pressão. A enfermeira mediu 3 vezes e achou que estava errado, chamou a médica que mediu novamente, constatada a pressão a médica vira pra mim e diz: -Mãe, a pressão dele está 15 por 10, e o que tudo indica é que ele está com uma inflamação no rim, ele terá que internar na UTI... – eu fiquei em estado de choque, perguntei já entre lágrimas: -UTI? Mas isso é muito grave? – Ela me explicou que a UTI era o melhor para ele naquele momento porque ele inspirava cuidados e acompanhamento. No final das contas não havia espaço na UTI e ele acabou indo para a enfermaria. O hospital estava lotado, nosso convênio nos dá direito a quarto, mas tivemos que passar duas noites na enfermaria. Entra e sai de crianças e familiares, todos com o mesmo desespero. Seja qual for a doença, uma criança internada é uma situação pesada, preocupante, e nos vemos tão fracos e impotentes diante de uma doença, que as mães acabam compartilhando da mesma dor.





Foram 3 dias até que descobrissem o que ele tinha mesmo: Sindrome Nefrótica. Ele perdia muita proteína na urina e como o corpo precisa da proteína para manter o líquidos nos vasos, sem ela ocorre um derrame de líquidos em todas as partes do corpo, causando o inchaço. E daí vem outras coisas como a pressão alta, colesterol alto, tudo decorrente da disfunção do rim. O que agravou o problema do Matheus foi um derrame pleural (junção de líquido no pulmão) que de tão elevada foi tratada como uma pneumonia. Os primeiros 6 dias foram recheados de notícias de piora e agravantes, não tinha uma evolução, nada. O mais interessante é que ele não pedia para ir embora, nem quando o pai vinha visitá-lo, ele parecia entender que não estava bem, e que precisava ficar lá, aceitava medicamentos como um mocinho, sem reclamar. Eu tentei tratar tudo com a maior “naturalidade” possível para não assustá-lo, ele precisava de mim naquele momento, e eu precisava manter a calma. Eu só pedia a Deus que ele ficasse bem. Já não me importava o tempo que teríamos que continuar no hospital, o que importava era a saúde do meu pequeno. Quando ele começou a apresentar melhoras no pulmão, deram uma medicação para desinchar, a albumina humana, caríssima por sinal, depois da tal medicação, ele começou a fazer xixi, e na manhã seguinte ele voltou a ser meu Matheus, o rostinho dele voltou ao normal, e começamos a vê-lo reagir bem a todo o tratamento. 

Matheus internou no dia 13 de novembro e saiu de lá 9 dias depois (22), com um tratamento longo e difícil pela frente, mas com a graça de ter a possibilidade da cura total em alguns meses. Nem todas as crianças tem a mesma graça. Certas coisas não deveriam acontecer com crianças...
O tratamento está sendo a base de corticóide, uma dosagem alta para bombardear mesmo o rim dele, foram 2 meses tomando 45mg por dia, e agora depois de refazer todos os exames ele começou a tomar dia sim, dia não, essa dosagem continuará caindo até parar de vez (não pode parar de uma vez com o corticóide). Nesses 2 meses o Matheus aumentou 6 kg, ganhou pelinhos no corpo e está com a bochecha gigante, já tinha ouvido falar muito desse remédio, mas não imaginava que ele agiria tão rápido assim. Ele mesmo se sente um pouco “desconfortável” com o peso a mais, está sem pique, e não gosta quando falam pra ele que ele está “gordinho”. O que é inevitável, porque as pessoas não tem o bom senso de não chamar uma criança de “gordinho”, chega a me irritar quando percebo o incomodo que causa nele.

De qualquer maneira o importante é que meu pequeno fique bem, se esse remédio é o único caminho a gente lida com o peso e com os pelos, assim que o remédio parar ele vai voltando ao normal, isso é de menos, a saúde dele vêm em primeiro lugar.
Tudo isso me fez pensar demais nas crianças doentes e suas mães, imagino como devem se sentir diante de um diagnóstico grave, porque eu vivi a sensação da impotência. Os médicos te mostram o problema, te mostram o tratamento, e não há certeza de nada. Se pudéssemos trocaríamos de lugar com eles, daríamos nossa vida pela vida deles, mas o que se pode fazer é cuidar e rezar. E é por essas mães que hoje eu rezo, pra que tenham forças, sejam firmes, tudo tem o seu propósito, e nossas crianças precisam de nós para acreditar que tudo ficará bem, mantenham a fé.
Meu pequeno está cada vez melhor eu só posso agradecer. Ter meus filhos bem, brincando ao meu lado é maior benção que posso ter. Obrigada meu Deus pelos meus dois filhos. 

PS:Amanhã eles começam a frequentar a escolas novas, e depois eu faço eu faço outro post pra falar disso.