Ando precisando exercitar minha paciência. Entender que cada
um tem seu tempo e tentar digerir um pouco melhor isso. Tenho achado que o
Matheus veio para me ensinar a tolerar melhor e me capacitar a encontrar outros
meios de modificar as situações. A teimosia dele me tira do sério.
Provavelmente numa outra vida ele foi militante na ditadura, ele é do tipo que
aguenta qualquer tortura firme e forte em sua opinião. Faz as coisas do jeito
dele. E eu que sempre fui daquela filosofia de que criança não tem que querer
nada. Eles têm que se encaixar na nossa rotina e obedecer aos nossos chamados. Porém,
as coisas não têm sido assim, ruim pra mim, ruim pra ele, ficamos em pé de
guerra, eu fingindo que mando e ele fingindo que não se abala. Esses dias
chegamos em casa, e ao descer do carro, vi que ele estava sem tênis. Disse que
ele não desceria enquanto não colocasse o bendito nos pés, foram trinta minutos
de choros estridentes e nervos a flor da pele. Eu dizia em tom calmo e forte: -
Coloque seu tênis que entraremos em casa sem maiores problemas! – A única
resposta que eu obtive o tempo todo foi: -Não! – E choros, e gritos, e “me
deixa sair daqui”, uma tortura. Não gosto de voltar atrás, acho errado, deixa a
criança malandra. Segurei até onde deu, deixei ele sair, dei várias broncas,
ele chorou mais uns litros e o tal tênis não entrou no pé dele. Coisas assim
vêm acontecendo constantemente e está me estressando de uma forma terrível.
A saúde do Matheus está boa, Graças a Deus, o rim está
funcionando normalmente, mas ele ainda está em tratamento e não pode pegar
resfriados, o cuidado tem que ser maior. Mas ele não aceita, e eu estou sempre
entre a cruz e a espada. O pai que era pra me ajudar, dizer pro Matheus que ele
tem que obedecer, só entra no meio pra dizer que eu estou descontrolada, louca,
e passar a mão na cabeça dele.
Aí em 1 minuto ele consegue colocar a blusa que
demorei um século pra tentar enfiar na criança enquanto se debatia contra mim,
ou pra dar aquele remédio que comigo não queria tomar, ou colocar o tênis...
Sinto que piora, porque quando ele está por perto o Matheus aumenta a manha,
fica chamando pelo pai, procurando o protetor. Tem coisa que tenho jogado na
mão dele mesmo, mas quem dá banho, quem troca, quem arruma, sempre sou eu... e
essas tarefinhas básicas tem consumido cada gota da minha paciência, por serem
tão banais e tão difíceis de se fazer, já que o Matheus tem que ser “convencido”
a fazer as coisas.
Sinto que eu estou fazendo tudo errado! Me sinto mal em não
conseguir concluir coisas tão simples sem brigas, gritos e castigos. Filho, por
que não pode simplesmente colocar a blusa? Por que me desafia tanto? Você é tão
pequeno, precisa de limites e de cuidados, não posso e não vou fazer o que você
quer ao seu bel prazer, você tem que entender. E eu tenho que aprender a te
entender também...
Sobra até pro Lucas, coitado, fico irritada, e qualquer
perguntinha boba eu acabo respondendo rispidamente. Desculpa filho, eu não
tenho sido tão legal com você. Nem comigo eu tenho sido! Juro que vou tentar
melhorar. É que pra encontrar um caminho de lidar melhor com a situação eu
terei de modificar certas coisas que me acompanham e fazem parte da minha
personalidade. É difícil mudar! Mas eu amo vocês, e por vocês prometo tentar!
Sinto muito por não ter sido até hoje o melhor que posso ser... me sinto
esgotada... Educar é muito difícil, ainda mais junto com outra pessoa que pensa
diferente de você. Também sinto falta de alguém pra me apoiar. Mas isso não é
desculpa, vou achar um jeito de viver mais em paz!
Amo vocês!
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